...

17 junho 2011

Livros e Capuccino

Eram quase 23 hrs de uma quinta-feira meio gélida de outono, dentro do ônibus com sua leitura preferida em mãos e com uma trilha sonora um pouco inusitada, o assobio do cobrador.
Não era dificil perceber a diferença daquela moça que vestia jeans e jaquetas com um jeito meio intelectual despojado despreocupada com a aparência e nitidamente envolvida no seu mundo particular.
Alice já estava acostumada com aquela rotina de vai e vem de ônibus e gente, sempre tão corrido sempre tão monótono, que resolvera se privar na sua estante particular de livros, ou poderia se dizer bibilioteca ambulante.
Alguma parte daquele livro fascinava Alice que se comparava as figuras femininas nostálgicas e muitas vezes confusas em idéias tão mesquinhas, que se perguntava com qual delas parecia mais.
Haviam duas personagens facinantes, uma delas vivera sua vida com alguém e sufocava a vontade de traição, lia livros, gostava de boêmia e boas literaturas, costumava observar rapazes que bebiam conhaque. A outra, linda, ousada, uma artista, tão volúpia e ao mesmo tempo tão amada e com tanto amor, não se prendia a ninguém mas fazia todos se prenderem a ela.
Talvez ela, também uma artista se assim pudesse ser considerada a arte de fotografar, leitora de boa literatura, linda, admiradora de rapazes que bebem conhaque, e fazendo todos se prenderem a ela, é talvez ela fosse mesmo um pouco das duas.
Logo havia trocado de ônibus e sentou-se em um daqueles banquinhos que ficam de lado, como metrô, no biarticulado vermelho e rápido, que anunciava cada próxima parada com uma voz tão irritante que lhe bagunçava os pensamentos.
Correndo os olhos sobre as frases do livro, não conseguia conter a vontade de pedir a todos que silenciassem, e que as gralhas femininas nada delicadas sentadas a sua frente absorvesse um pouco de cultura para depois poder falar sobre literatura.
A irritava o fato de chamarem livros técnicos, de literatura, e literatura de livros de texto comum, que insulto!
Logo tropeçaram no seu pé e quase derrubou o capuccino quentinho de canela que estava em uma de suas mãos.
Alice nessa hora fechou os olhos e concentrou-se na sua simples missão, ler o seu livro até encontrar com seu rapaz. No momento em que lembrou dele sentiu um frio passar pelo estômago, aquele frio que testa nosso coração, aquele que nos faz lembrar do porque estamos fazendo aquilo, o frio que dá arrepio nas costas, nem parecia que só faziam alguns meses que haviam se encontrado.
Alice quase não acreditava mais em contos amorosos depois de conhecer e de ter tantos amantes que apenas iam e vinham, mas aquele era diferente, era como ela, quase sua versão masculina.
Era facil perceber que as coisas estavam apenas começando, mas era gostoso viajar em literaturas erótico-amorosas e imaginar o seu rapaz não muito alto, com pele clara, olhos verdes e barba com tom loiro escuro, era fascinada por ele, e pensar nele fazia sua mente ir longe e esquecer em volta.
Era chato ser olhada como uma raridade na rua, como se fosse uma estranha carregando um objeto de outro mundo e vestida com roupas esquisitas, mas na verdade, para natureza de Alice,  as pessoas que eram incomuns, era chato, mas ela no fundo gostava de ser diferente dos demais.
A neblina tomava conta dos prédios da cidade e o frio se acentuava fazendo-a se arrepender de não ter colocado um casaco a mais. Guardou o livro, segurou o copo entre as pernas fechou os olhos e apertou as mãos com firmeza causando atrito entre uma e outra para tentar aquecer, desceu do ônibus e contemplou a cidade com pontos fracos de luz, lembrou-se dos amigos de longe, e do amigo de perto que havia lhe entregado aquele livro.
Gostou de lembrar daquilo, tomou o ultimo gole de café apressando o passo para entrar naquele mundo que mais detestava, quase um respirar fundo se não fosse o vento gelado que cortava-lhe o rosto, tomou em pulso a sua bolsa e entrou na loja de departamentos.

Nenhum comentário: